quinta-feira, 13 de maio de 2010

Carnaval: Festa popular...e paga?


Revista Musicália – O carnaval é uma festa popular? Na sua opinião, quais são as características que o apontam como tal?
Durval Lelys – Sim. Porém a presença da classe alta e média também é notada nos anexos do carnaval (nos blocos, camarotes).

Revista Musicália – Desde o seu surgimento, o carnaval se mostrou como sendo uma manifestação artística que atinge maciçamente o povo baiano. Como você vê a privatização da festa?
Aninha Franco – Muitas manifestações populares foram privatizadas em Salvador, a partir dos anos 80, pelos mesmos grupos. Bonfim Light, Conceição Light, etc. são interiorizações de festas de largo, completamente populares, e que eu desconfio que nada têm a ver com as festas originais. O Carnaval foi a maior das apropriações.

R.M – Qual a sua opinião acerca da privatização da festa? Isso ajuda ou prejudica no contexto da festa?
D.L – Não sou a favor da privatização e sim da ampliação. A privatização teria que mudar todo o modelo do carnaval que segue desde seu inicio e se isso acontecesse não seria mais uma festa popular. As privatizações que existem hoje como blocos, arquibancadas e camarotes são produtos do desenvolvimento do carnaval, devido a proporção que a festa tomou.

R.M – Com a privatização, o carnaval perde sua essência?
A.F – O carnaval volta para dentro dos clubes. Não esqueçam que ele existia plenamente, nos anos 70, sem a turma dos clubes.

R.M – Um dos argumentos usados para a criação de espaços fechados no carnaval são os circuitos que não estão mais suportando tanta gente. Em sua opinião, os circuitos da festa são adequados? Em que sentido isso afeta o carnaval?
D.L – Eles são sempre adequados por um determinado tempo de existência. Depois eles passam a ser saturados como aconteceu comigo no circuito Avenida que, superlotou e desci para o Barra - Ondina e agora lá também esta superlotado, devido aos outros artistas da Avenida também estarem descendo para a Barra, sem contar com os novos blocos e bandas que surgem a cada ano. Cada vez que cria-se um novo circuito, deve-se criar também uma estrutura proporcional as necessidades que vão exigir.
As soluções seriam as opções que são criadas ao longo dos anos, pelos empresários e entidades carnavalescas para que criem e executem projetos interessantes. Na minha visão de ampliação do carnaval, tenho algumas ideias que acrescentariam no glamour da festa, sem perder o lado filosófico de manter a festa popular, de manter o povo na rua sem pagar nada e criar produtos comercializáveis adequados a manutenção do mesmo.

A.F – Os circuitos são pacotes de camarotes + bandas + cordas + abadas + estrelas de trio que representam o Carnaval baiano, hoje, em todo o País. Esses circuitos são sorvidos pela elite econômica nacional e pipocados pelo povo pessoalmente ou pela TV.

R.M – Uma grande parte dos foliões que saem as ruas para pular o carnaval saem na pipoca e pertencem a uma classe de baixa renda. Você não acha que com a criação de espaços fechados esses foliões não iriam ficar excluídos deste contexto da festa?
D.L – Repito, não sou favor da privatização e sim da ampliação. Esse espaço existiria no meu projeto, para as pessoas pularem sem ter que pagar nada, como também teria um espaço pago para quem quisesse ficar mais tranqüilo, isso é uma questão de conceito. Por exemplo, para mim, o Asa de Águia tem que tocar para todos nos formatos que existem, como nos carnavais fora de época, que tem o espaço privado em alguns Estados e o carnaval de rua com seus camarotes como Natal, Aracaju, Campina Grande e outros mais.

A.F – Esse carnaval, dos grupos, corre o risco de virar um carnaval de época na época do carnaval. E murchar. Nos anos 90, existiam carnavais de época o ano inteiro, no Brasil inteiro e até em Miami. Acabaram. Dêem uma checada em quantos existem hoje...E porque resistiram.

R.M – Afinal, em sua opinião, o carnaval é uma festa popular?
Aninha Franco – Nós só estamos discutindo ela porque ela é popular.

Nenhum comentário:

Postar um comentário