quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Lado Alternativo do Carnaval


O ritmo Surf Music e os Retrofoguetes

A surf music ganhou o espaço do carnaval de Salvador com um trio de música instrumental chamado Retrofoguetes. Criado em 2002 (Salvador), o Retrofoguetes é um dos mais conceituados no circuito independente, sendo composto por Morotó Slim (guitarra), CH (baixo) e Rex (bateria). A banda é ambientada na literatura, no cinema e nas HQs de ficção – científica. CH Straatmann diz, que as sua influências se baseiam na Surf Music dos anos 60.

Com o álbum “Ativar Retrofoguetes”, os rapazes foram indicados em 2004 ao prêmio Claro de Música na categoria Melhor Disco de Música Instrumental. No ano de 2008 o guitarrista Morotó Slim recebeu o prêmio de melhor instrumentista do ano pelo Troféu Dodô e Osmar, que premia os melhores do carnaval, assim os fortificando cada vez mais no cenário da música.

Partindo para o cenário do carnaval e dos ritmos alternativos, CH Straatmann que fala pelos três, expressa a sua opinião ao dizer que existe inúmeros fatores que contribuíram para que esses ritmos ficassem à margem da folia. Um deles é o fato de Salvador durante muito tempo não ter uma secretária exclusiva para a cultura; era a secretária de cultura e turismo. Assim, para eles as ações culturais eram voltadas para o formento do turismo, fazendo com que a música de carnaval fosse vendida como a cara da cidade.

O baixista continua a dizer que apesar da variedade musical que se encontra no carnaval, que vai do Samba do Recôncavo, passa pelo Frevo Elétrico da Guitarra Baiana até a MPB, ainda existe uma predominância da Axé Music dentro da festa. “Nós achamos que o melhor caminho é a diversidade e os espaços precisam ser criados”.

No carnaval de Salvador o Retrofoguetes têm projetos futuros. Eles pretendem dar continuidade ao Projeto com o trio no carnaval e apresentar material inédito para o Retrofolia, com um disco de Frevos Elétricos.

Um espaço alternativo: Palco do Rock

A cada ano aproximadamente 32.000 pessoas durante quatro dias, são mergulhadas em um evento que já acontece há mais de 15 anos: o Palco do Rock. Vindas de todos os cantos da cidade e do Estado, além de outros países, esse evento começou a ser pensado desde 1991, quando reuniões no antigo espaço Sabor da Terra (Jardim dos Namorados) foram feitas para se discutir uma possível realização do Palco do Rock.

O presidente do evento na época Humberto (Tedão), teve de início a idéia de colocar o Rock no carnaval de Salvador, no formato do Trio Elétrico, mas essa tentativa durou três anos sem êxito. Quando Sandra de Cássia, atual presidente, ingressou no grupo, a idéia de se criar um palco, no período do carnaval e com local específico surgiu. Com isso poderia agregar todos os estilos Rockers.

Durante todos esses anos de realização do evento, dificuldades e conquistas foram se atribulando ao Palco do Rock. Primeiramente, a grande dificuldade de todas foi enfrentar a discriminação da inclusão desse gênero no carnaval da cidade. Foram muitas ações realizadas para de fato implementar tal feito, desde invadir a prefeitura até várias declarações acaloradas nos diversos veículos de comunicação.

As conquistas foram surgindo como forma de calar a boca de muitos que queriam sufocar esse evento. Como aconteceu na administração de Imbassahy, que cortou os cachês, assim piorando a estrutura do Palco do Rock. Mas em 2005, quando mudou a administração da cidade, o Palco do Rock voltou as ruas, fazendo de um trio parado, um palco. Daí em diante, o evento foi melhorando a sua qualidade e em 2009 ele foi contemplado pelo Fundo de Cultura do Estado da Bahia, que retornou com os cachês das bandas. Conseqüentemente, dentro do evento outros espaços foram surgindo, como o Espaço Interativo e neste ano o Espaço Infantil.

Sobre a estrutura do Palco do Rock, todo ano ela é revista para que seja melhorada conseqüentemente. Desde a qualidade de som e iluminação à implementação de banheiros químicos. Sem falar que a prefeitura disponibiliza uma rede de ônibus para que todos possam curtir o evento a vontade.

Na opinião dos organizadores do Palco do Rock, esses espaços alternativos na época do carnaval são ótimos, pois prezam pela questão identidária e a real diversidade. Para eles a diversidade, deve ser trabalhada respeitando identidades e especificidades. Assim, para os organizadores o carnaval de Salvador é uma festa linda de se ver do jeito que ela foi criada. Com isso existindo espaço para todos, sendo ocupados de forma responsável e respeitosa.

Programação do Palco do Rock 2010

Local: Coqueiral de Piatã – Salvador
13/ 02 (Sábado)
17h – Dom Lula Nascimento
18h – Fridha
19h – Vivendo do Ócio
20h – Redoma (RS)
21h – Cólera (SP)
22h – Karne Krua (SE)
23h – Três Puntos
00h – Desrroche
01h – Behavior

14/ 02 (Domingo)

17h – Mensageiros do Vento
18h – Ignivomus
19h – Ênio e a Maloca
20h – Astafix (SP)
21h – Dead Fish (ES)
22h – Vendo 147
23h – Survive (AC)
00h – Andranjos
01h – Dimensões Distorcidas

15/ 02 (Segunda)

17h – Buster
18h – Davi Zew
19h – Fiddy (PE)
20h – Ulo Selvagem
21h – Korzus (SP)
22h – Agrotóxico
23h – Elipê
00h – The Honkers
01h – Keter

16/ 02 (Terça)

17h – Aluga-se
18h – Chá de Pensamento
19h – Etno (DF)
20h – Clamus (CE)
21h – Phantom Rockers (EUA)
22h – Suprema (SP)
23h – Pastel de Miolos
00h – Os Irmãos da Bailarina
01h - Almadória

Nancy Viegas e o seu Rock no Carnaval



Cantora, compositora e produtora Nancy Viegas tem uma forte ligação com o carnaval de Salvador. Uma artista que começou a sua trajetória musical desde o seu colegial, com uma banda chamada Crac que durou 10 anos e depois com a banda Nancyta e os Grazzers que participou de inúmeros festivais de música pelo Brasil. O seu trabalho como produtora musical vai desde a produção de discos do Retrofoguetes e do Zambotronic até gravações de estúdio com inúmeros artistas do meio alternativo.

No carnaval especificamente esse ano, Nancy esteve nos dois circuitos em trios com propostas diferentes. O Carnivália com a Pitty e o Radiola no centro e na Barra/Ondina com o grupo Quilombola Soul. Para ela foi uma experiência muito emocionalmente, principalmente no centro da cidade. Ela acha que com a inserção de ritmos alternativos no cenário da festa, isso acarreta uma grande vitória para a diversidade e um ponto de partida para uma maior democratização, apesar dela salientar que ainda existe um lado comercial da festa.

Nancy Viegas busca em suas essências para a sua formação musical artistas variados como: Tom Waits, Mike Patton, Mutantes, James Hetfield, Chico Science, Smetak, Villa Lobos, além da literatura Beatnik que mexeu com a maneira dela pensar sobre música.

Sobre o rock Baiano, em sua concepção, Nancy acredita que está mais forte do que nunca. Com novas bandas fazendo shows e conseqüentemente gravando novos materiais. Para ela os espaço destinados a todas as bandas e artista do rock estão reservados para cada um deles tanto dentro como fora do carnaval, a partir do momento, que os mesmos apresentam um trabalho legal.

O Reggae na Folia



Quem nunca foi embalado pelo envolvente som do reggae que atire a primeira pedra. Um ritmo que mistura música folclórica, ritmos africanos, ska (combinação de elementos caribenhos) e o calipso (ritmo caribenho). Surgido na Jamaica, esse gênero musical ganhou repercussão mundial na década de 1970 e na voz de Bob Marley encantou multidões. Outros nomes também contribuíram para a fortificação desse estilo de música como é o caso do Delroy Wilson, Bob Andy, Burning Espear, Johnny Osbourne, além das bandas The Wailers, Ethiopians, Desmond Dekker e Skatalites.

No Brasil, o reggae foi mais forte na região Norte do país, mas na Bahia ele foi incrementado numa das festas mais populares do planeta: o Carnaval de Salvador. Aqui, com os blocos de reggae, esse ritmo ligado a força Rastafari defende a justiça social e a equiparação de direitos através da música, arte e cultura. Situados na sua grande maioria no Pelourinho, esses blocos como o Aspiral do Reggae, Banana Reggae, Surf Reggae, Reggae - O Bloco, Diamante Negro, Ska Reggae, Coração Rastafari e Filhos de Jha, contribui a cada carnaval para o amadurecimento desse ritmo que vai ganhando espaço na folia.

Falar do reggae no Carnaval de Salvador é desafiador pelo fato desse gênero durante alguns anos ser colocado de lado em contraposição aos grandes ritmos da folia como o Axé e o Pagode. Para Jussara Santana – coordenadora e produtora musical do Bloco Aspiral do Reggae a causa disso vem das marchinhas e dos modismos do Axé que foram tomando conta do cenário da festa. Mas ela salienta que o reggae está presente nas vozes de Edson Gomes, Ras Ciro Lima, Sine Calmon entre outros.

Na opinião de Amilton Santana Cunha representante do Bloco Diamante Negro o reggae não estar diretamente à margem do carnaval da Bahia, mas para ele existe uma monopolização que é feita pelos grandes empresários e pelos grandes blocos que colocam grandes estruturas com mais de 6000 mil foliões e um exército de cordeiros, promovendo a segregação humana (Centro x Periferia).

Os representantes do reggae (os blocos) no carnaval da cidade se constituem em um grande personagem, sendo estimulado pelo público que respondem de forma positiva a essa inserção desses ritmos alternativos. Muitos deles fazem projetos sociais como as entidades Diamante Negro que mantém oficinas de capoeira, dança e percussão, o Aspiral do Reggae que promovem palestras sobre diversos assuntos, desde alimentação natural até a importância da cultura Rastafari, Ska Reggae com as suas oficinas de capoeira e artesanato, o Coração Rastafari que trocam seus abadares por alimentos não perecíveis depois do carnaval entre outros blocos.

O reggae é um dos ritmos alternativos da folia, juntamente com o rock entre outros que aos poucos foi se contrapondo e ganhando força no carnaval. Como Jussara diz o reggae continua na resistência e persistência no cenário da festa mais popular do mundo.