segunda-feira, 7 de junho de 2010

Matéria Especial: O axé hoje



O movimento sempre foi munido de mudanças. Mas será que hoje isso permanece? Para Luiz Caldas, mentor do Axé, isso mudou. “Há pouca inovação e muita modificação da mesma célula sonora. Isso não é culpa de ninguém. Só o formato é que apresenta alguma fadiga. É hora de pensar menos em lucro e mais em arte. Sinto que essa seja a única saída para uma melhoria da qualidade e a manutenção do estilo no topo da música” explica.

A mercantilização da música produzida na Bahia, a transformou em uma indústria fonográfica. O empresariado com a intenção de gerar lucro para as empresas, produzem a cada ano, uma quantidade excessiva de bandas. A produção de discos hoje é realizada em estúdios de pequeno porte, que não garantem qualidade. Alfredo Moura vê a composição dos arranjos das bandas de axé como algo repetitivo e que sua produção não é necessariamente mais fácil do que outros ritmos e isso cabe também a produção de discos. “Cada estilo musical tem suas características e isso se reflete nos discos”, afirma Moura.

“Estamos vivendo um momento preocupante. O surgimento de pequenos estúdios levou o movimento da música baiana a uma queda de qualidade impressionante. O artista e os “donos de banda” na Bahia acreditam que uma gravação feita de forma caseira, sem o acompanhamento de profissionais experientes pode ajudá-los a conquistar esse mercado cada vez mais exigente. Para um projeto dar certo é necessário que seja criada uma identidade rítmica, definição de uma linguagem instrumental, qualidade sonora e uma correta definição do público alvo. Sem isso a tendência é o fracasso”, alerta Rangel. Sobre as características fundamentais para produção de um disco de axé, Moura foi taxativo: “Organização, eficiência e criatividade”.

Alguns cantores veteranos ainda inovam, a exemplo de Daniela Mercury, que apesar de ser cantora de axé, já trouxe a música eletrônica e clássica para o carnaval. “O carnaval da Bahia sempre foi plural. Sempre assumiu as várias tendências musicais de qualquer que seja o local de onde ela venha, anglo saxônica, África, Caribe. Eu acho que o carnaval da Bahia é para misturar tudo mesmo” salienta Rodrigues.



No entanto, a inserção de estilos musicais externos sem a mistura com os elementos musicais baianos do samba, ijexá, etc. pode não ser vista como inovação. “Misturar os ritmos resultando em modernas fusões é sempre bom, pois foi assim que a música baiana se firmou no mercado nacional. O problema é que na maioria dos casos estamos “clonando” informações externas e utilizando-as em sua forma quase original o que desprestigia nossa capacidade criativa”, alerta Rangel.

Mas a participação dos estilos musicais baianos, também se dá no carnaval. Desde 1993, com o sucesso estrondoso da banda É o Tchan do Brasil, que contava com as coreografias sensuais, exibidas pelos dançarinos Jacaré, Carla Perez e Sheila Carvalho, o pagode baiano se faz presente. O É o Tchan do Brasil foi a banda baiana que mais vendeu discos, somando 12.000.000 de cópias, sem contar que abriu espaço para o grupo Terra Samba, Companhia do Pagode, Gang do Samba, Harmonia do Samba, etc.

Infelizmente, as pessoas tendem mais a aceitar os estilos musicais que são importados e o preconceito com o pagode, cada vez mais presente no carnaval, ainda é grande. “As pessoas descem o cacete esculhambando o pagode que em geral são músicas de boa qualidade (falando de música). São bem tocadas, tem bons arranjos. Grande parte desta garotada que faz esse tipo de música são bons músicos. Então não tem nada de ruim. O gosto é de cada um”, analisa Rodrigues.

Em meio a polêmicas, influências e transformações o axé sobrevive por mais de duas décadas. Talvez a industrialização da arte não a permita perdurar por muito tempo. Mas isso só o futuro dirá.

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