segunda-feira, 7 de junho de 2010
Matéria Especial: A máquina de fazer alegria
Salvador, década de 1930. Dorival Caymmi, Adolfo Nascimento (Dodô), Alberto Costa e Zezinho Rodrigues formavam o grupo musical Três e Meio, responsável por animar as festas da cidade. Como também se apresentavam em rádios, começaram a fazer sucesso no estado. Em 1938, Caymmi decide ir para o Rio de Janeiro e o grupo é reformulado e passa a contar com sete integrantes. Entre eles estava Osmar Macedo. E foi assim, através da música, que Dodô e Osmar se encontraram.
Em 1942, no cine Guarani foi mostrado ao público o “violão eletrizado”, através do violonista clássico Benedito Chaves. Dodô e Osmar foram assistir ao show, a fim de conhecer o instrumento. Era um violão tradicional e tinha um captador localizado na boca. Mais havia um problema, já que apresentava microfonia (ruído decorrente da realimentação de um som já amplificado, através de um microfone). Dodô, querendo eliminar esse problema, fez um violão igual ao do violinista, mas não adiantou. Daí fez um cavaquinho para Osmar e assim a “Dupla Elétrica” estava formada.
“Eles tocavam com instrumento acústico e dava muita microfonia, não podia aumentar o volume. Então eles começaram a fazer experiência. Chegaram na oficina de Dodô que era radio técnico, em uma bancada eles colocaram um prego de cada lado, estenderam uma corda de instrumento e aí botou o captador em baixo e começou a tocar. Aumentava o volume e não dava microfonia. Então eles sacaram que o “cepo maciço” do instrumento evitava o fenômeno da microfonia. E aí fizeram o protótipo que é o pau elétrico”, explica André Macedo. Assim nasceu a guitarra baiana.
Até 1949 a “Dupla Elétrica”, produzindo seus instrumentos, tocavam em festas e bailes. No ano seguinte, pouco antes do carnaval, o navio que transportava o Clube Carnavalesco Vassourinhas de Recife que iria realizar uma apresentação no Rio de Janeiro, aportou em Salvador e á pedido do então governador Otávio Mangabeira, fizeram uma apresentação na Rua Chile. Durante a apresentação, o povo se misturou aos músicos formando uma aglomeração, resultando em um acidente com um dos integrantes do Vassourinhas, que teve os dentes quebrados. Dodô e Osmar estavam no meio da multidão.
No dia seguinte, a dupla resolveu criar uma nova forma de brincar carnaval, de divertir o povo. Osmar pegou no galpão de sua oficina um Ford 1929 e ornamentou o veículo com bolinhas coloridas em referência aos confetes, muito utilizados na época no carnaval. Além disso, fez duas placas em formato de violão, onde escreveu “Dupla Elétrica”. Radio técnico, Dodô teve a ideia de confeccionar uma fonte de energia para que através da corrente da bateria do carro, fosse possível o funcionamento dos alto-falantes. A Fobica estava pronta para o carnaval.
“Então domingo eles foram sair da Piedade para a Praça da Sé. Eu estava lá. O Osmar ficava em cima da Fobica tocando cavaquinho, Dodô no violão e o sogro dele (Osmar) Armando, tocando pandeiro. Embaixo tinha alguns percussionistas”, recorda Orlando Campos, criador do Trio Tapajós.
Uma multidão começou a acompanhar a dupla. Mas na descida da Ladeira de São Bento, o carro começou a produzir fumaça. “Osmar gritou para o motorista dele que era o Olegário e falou: ‘Para, para que a Fobica está fumaçando e dançando para um lado e para o outro’. Aí Olegário respondeu: ‘Seu Osmar parado já estava há muito tempo. O povo é que está empurrando’. Naquela época para mim foi um momento histórico e daquele povo que estava empurrando a Fobica, eu era um deles”, conta Orlando com satisfação.
Em 1951, Temístocles Aragão foi convidado a se juntar a Dupla Elétrica. Osmar solava as músicas com o cavaquinho, Dodô com o violão fazia a marcação e Temístocles tocava o triolim, instrumento de harmonia. “Colocaram na lateral da nova caminhonete ( a Fobica tinha derretido o motor no carnaval de 50) o Trio Elétrico, e com isso, mesmo crescendo a quantidade de gente e o caminhão, o povo quando via dizia ‘ lá vem o trio elétrico’ e com isto estava consagrado o nome”, comenta Betinho Macedo.
E o caminhão continuou mesmo crescendo, pois no ano seguinte a fábrica Fratelli Vita passou a patrociná-los, aumentando o veículo, a quantidade de alto-falantes e iluminação. O Trio Elétrico além de se apresentar no carnaval de Salvador, estava participando de micaretas no interior da Bahia. O patrocínio da fábrica durou até 1957.
A partir de 1953, outros trios começaram a surgir em Salvador, entre eles o Ypiranga de Cristóvão Ferreira, o Jacaré que passaria a ser Saborosa, Atlas, Alvorada e o Cinco Irmãos, de Periperi.
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