segunda-feira, 7 de junho de 2010

Matéria Especial: 25 Anos de Axé!


Depois da Tropicália, movimento comandado pelos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil e que transformou a música do Brasil, surgiu em Salvador uma novidade no cenário musical baiano. Nasceu em 1985, através do som de Luiz Caldas e sua banda Acordes Verdes, o que se tornaria o maior movimento musical proveniente da Bahia, a Axé Music, que completa esse ano 25 anos de história.

O termo Axé Music foi criado pelo jornalista Hagamenon Brito. Ele uniu o termo Axé, utilizado por roqueiros da época para designar aqueles que faziam “música brega”, ao termo Music, existente em Soul Music, Black Music, etc. Apesar do nome pejorativo criado pelo jornalista, o movimento não apenas cresceu, mas se solidificou e permanece no cenário musical através de artistas como Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, Timbalada, Daniela Mercury, etc.

Em 1985, o novo jeito de fazer música começou com a canção Fricote, mais conhecida como Nega do Cabelo Duro, composta por Paulinho Camafeu e Luiz Caldas. Essa música é do disco Magia, que deu início ao registro em discos do movimento e teve como banda o Acordes Verdes, que acompanhou de Luiz Caldas nos shows feitos no Brasil e no exterior do disco.

O disco Magia é muito importante na minha carreira e na de todos os cantores e cantoras de Axé Music. Ele possibilitou todo esse sucesso que temos desde 1985. Eu lancei Magia em um momento muito especial da música brasileira, quando tínhamos compositores maravilhosos sem espaço para mostrar suas composições. O regionalismo foi nacionalizado, com a nova música baiana chegando em todo o país”, explica Caldas.

Na época, o Acordes Verdes gravou discos de artistas como Sarajane, Chiclete com Banana, Margareth Menezes e Banda Reflexus. Os arranjos eram feitos por Caldas, Alfredo Moura, Luisinho Assis e Carlinhos Marques. Para Moura, o disco Magia, de Luiz Caldas; A Roda, de Sarajane; e Sementes, do Chiclete com Banana, são alguns dos grandes momentos do axé em termos de arranjos.

Os integrantes da banda eram os únicos músicos de estúdio e o estúdio da cidade era a WR, de Wesley Rangel, que antes gravava jingles e trilhas. “A WR até hoje tem sido o local de nascimento das bandas baianas que fizeram e fazem sucesso nacional e internacional com a música baiana. Minha função foi facilitar a gravação dos primeiros discos dessas estrelas, tanto produzindo, como orientando ou somente facilitando a gravação do primeiro disco de todos aqueles que fazem sucesso até hoje na Bahia”, afirma Wesley Rangel.

Mas a inserção da música feita por Luiz Caldas nos veículos de comunicação ficou por conta dos radialistas, em especial Cristóvão Rodrigues, na época radialista da Itapoan FM, que foi o primeiro a colocar a música Fricote no ar. “No momento valeu mais o feeling. Achei que era uma música que podia dar resultado em termos de programação. E vinha fazendo isso com músicas de outros pontos do país, do Rio de Janeiro, São Paulo e Belém do Pará. Então Luiz Caldas foi mais um que a gente colocou na programação na época, na Itapoan FM. Deu certo, felizmente” declara Rodrigues.

Não demorou para que a primeira cantora de Axé surgisse. Sarajane fez seu primeiro carnaval em 1981, com os Novos Bárbaros e nesse ano ganhou como melhor cantora. Logo aderiu ao movimento. “Entrei no Axé por que era musica de comunidade carente. De onde eu vim”, declara. E foi na Axé Music que a cantora garantiu o sucesso. Em 1986, surgiu de uma brincadeira entre a cantora e o percussionista Davi Guedes, a música que seria um dos maiores sucessos de sua carreira, a música A Roda. A cantora também foi uma das divulgadoras da música negra. “Eu sou a primeira, a quem trouxe e divulgou a música de rua negra das comunidades carentes. Era o que eu sabia, cantar e dançar’, completa.

A música da Bahia sempre foi composta a partir de influências de outras vertentes musicais como samba, reggae, ijexá, galope, frevo, merengue, etc. Com o Axé não seria diferente.

Gerônimo por exemplo, traz em suas canções as influências caribenhas e africanas, com destaque para a última, visto que defende os ideais do povo negro. A música “Eu sou negão”, sucesso até hoje no carnaval, foi composta de improviso pelo cantor em sinal de protesto a discriminação no carnaval de Salvador, protagonizada pelos blocos de trio e os blocos afro. “Uma música de improviso é feita sem previsão. O sucesso veio com a verdade e a dialética. Uma crônica que se passa no carnaval, que ao longo dos anos é o retrato da sociedade que faz segregação e apartheid o tempo todo”, desabafa Gerônimo.

Em meados dos anos 1980, os profissionais de comunicação passaram a acreditar no novo movimento musical, abrindo o leque lançado por Cristóvão Rodrigues. “A partir do momento que um grupo de radialistas da Bahia na metade dos anos 80, entendeu que essa música, esse santo de casa, poderia fazer milagres, você mudou. Não é nada mais do que isso”, ressalta Rodrigues, hoje apresentador da rádio Itaparica FM.

Em pouco tempo, o primeiro movimento genuinamente baiano superou as barreiras mercadológicas e começou a invadir o eixo Rio-São Paulo, onde havia concentração das grandes gravadoras e dos grandes grupos musicais. O programa Cassino do Chacrinha, tinha a presença constante de Luiz Caldas e Sarajane.

A música da Bahia, através do afoxé, também adentrou a teledramaturgia brasileira. É D’Oxum, canção composta por Gerônimo, virou trilha da minissérie Tenda dos Milagres, da Rede Globo. “Isto pode ter sido sorte ou mesmo a energia do orixá ajudou na escolha. A música não fala e não descreve o orixá, mas diz que as pessoas daquela cidade são como a personalidade do orixá. A música entrou na trilha por Dori Caymmi e o seu pai Dorival”, explica o cantor.

As rádios do Brasil não demoraram a veicular as músicas de Luiz Caldas, contando também com o jabá (prática de uma gravadora pagar dinheiro para a transmissão de músicas em uma rádio ou tv) pago pela gravadora, que Caldas garante não ter sido excessiva. “Na época em que lancei a Axé Music as rádios de todo o país tocavam mais meus discos pelo fato de ser algo novo e original, isso já abria muito espaço. No mais, as gravadoras daquela época tinham artistas como Cazuza, Legião Urbana, Lulu Santos, Guilherme Arantes, Titãs, Capital Inicial, dentre outros. Não precisava tanto de jabá assim não, o talento da rapaziada ajudava bastante” diz o cantor.

A inserção dos primeiros cantores na mídia nacional foi fundamental para a disseminação do Axé no Brasil, ao mesmo tempo que em Salvador, mais artistas passaram a se identificar com o movimento e querer fazer parte. Entre os fins das décadas de 1980 e 1990, bandas e cantores solo estariam condensando o movimento, como Tonho Matéria, Daniela Mercury, Margareth Menezes, Banda Reflexus, Ara Ketu, Banda Mel, Timbalada, Chiclete com Banana, Asa de Águia, Jamil e uma Noites, Ivete Sangalo ( Banda Eva), etc.

Músicos e cantores, à medida que aderiram ao Axé, trouxeram influências musicais nacionais e estrangeiras. Assim o movimento nunca se tornou estático e definido. Isso porque a inserção de novas bandas e cantores significava mais inovações no meio musical baiano. Em 1991, Daniela Mercury em seu primeiro disco solo após saída da Companhia Clic, traz na música Swing da Cor, o samba-reggae, gênero dos blocos afros do carnaval de Salvador. Já em 1992, o Ara Ketu insere eletrônica nos tambores, colocando o axé na direção do pop.

A metamorfose contínua talvez tenha sido o principal fator para que o movimento não terminasse e sim agregasse, cada vez mais, um maior número de músicos e artistas. “Axé Music não é um ritmo. Axé Music não é um viés musical. Axé Music é só qualquer música que você faz para diversão na Bahia”, define Cristóvão Rodrigues. A definição de Rodrigues se encaixa na união entre Axé e carnaval, que resulta em diversão. É o momento em que as novidades sonoras produzidas pelas bandas, têm visibilidade e o objetivo é divertir o público. Daí vem a contínua necessidade de inovar e renovar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário